Filed under: Tibete - o Tecto do Mundo | Etiquetas: Everest summit, North Face Everest Base Camp, Pang La pass, Qomolangma Reserve, Rombuk, Rongbuk, Sakya
Como referi no post anterior, o acordar de Sakya foi (até então) o que mais nos custou. Creio que o gerador do “hotel” estava congelado, pelo que tivemos de fazer tudo com a luz dos nossos frontais. O pequeno-almoço foi o mais frugal até então e o dificilmente bebível chá de raízes não augurava nada de bom para os próximos dias. No entanto, as expectativas relativamente ao percurso até Rombuk e de fazer o trajecto até ao North Face Everest Base Camp relegavam esses ínfimos pormenores para a sua dimensão mais minimalista.
Pouco depois desta passagem e após superar o controlo militar de acesso, entra-se na pedregosa pista de acesso ao Everest Base Camp, com cerca de 90 kms e duração de viagem prevista de 4 a 6 horas.
Após passarmos Rombuk (ou Rongbuk) dirigimo-nos para um local de acampamento equidistante ao North Face Everest Base Camp (5.150 m). O mais famoso montito do planeta, com os seus 8.848 metritos de altitude, estava completamente tapado pelas nuvens – apesar de sabermos que estava “ali ao lado”. Talvez uma hora depois de termos chegado e enquanto descansávamos um pouco, disseram-nos que o vento tinha afastado temporariamente a neblusidade e deparámo-nos com o espectáculo que segue…
Escusado será dizer que não há relato ou fotografias que consigam traduzir as sensações daquele momento: o deslumbramento do lugar e daquele imenso triângulo de pedra que fascina tanta gente, o isolamento, o vento cortante e gélido, a dificuldade em respirar, o arrastar dos nossos passos e a “tonelada” que parecia pesar a máquina fotográfica… Aproveitando aquela aberta, decidimos caminhar o primeiro quilómetro (ou menos) dos cerca de 4 que faltavam para o Base Camp.
Era difícil mas, aparentemente, realizável. Brincámos como crianças, tentámos imitar desajeitados passos de balet e, repentinamente, o tempo começou a fechar e tivemos de regressar o mais depressa que conseguíamos na nossa exasperante lentidão.
Entrados na tenda, o forte cheiro a excremento de yak queimado (o “carvão” para aquecer água), feriu a sensibilidade dos nossos delicados narizes habituados a odores mais suaves e aumentou a nossa dificuldade em respirar. A noite foi de insónias para todos. Pela minha parte, com já nem recordo quantas camadas de roupa e umas pesadas mantas tibetanas em cima, só conseguia respirar se me deitasse lateralmente, de modo a que o seu peso ficasse suportado pelos ombros e não pelo peito. Durante a noite, misturava-se o frio que trespassava a tenda quando sopravam rajadas de vento mais forte com o delicado perfume do nosso primitivo aquecimento central, tudo somado à ansiedade sobre se conseguiríamos chegar ao Base Camp ou se alguém não teria condições – situação em que tínhamos combinado antecipadamente como proceder para não colocar ninguém em risco. Confesso que, salvo numa já remota situação de doença, foi das piores noites da minha vida. E as 06H00 que nunca mais chegavam…